domingo, 25 de março de 2018

Era uma vez, na Islândia...#5

Eram 16:30h, mais coisa, menos coisa, quando começámos a entrar na cordilheira a sudoeste de Akureyri.  

Os carros que transitavam em sentido contrário traziam camadas densas de neve nos tejadilhos, coisa que me causou estranheza, mas que na minha humilde inocência não me fez questionar o porquê...
À medida que íamos "entrando" nas montanhas, o céu começou a ficar mais escuro, mais denso e o nevoeiro caiu rapidamente sobre nós como um manto.
A paisagem bonita, de planícies brancas e brilhantes, desapareceu, tudo desapareceu!
O nosso campo de visão reduziu drasticamente e apenas conseguíamos guiar-nos pelos sinais nas bermas de estrada e pelo carro que seguia à nossa frente.
Íamos em marcha  lenta, sob um piso escorregadio, num trajecto que desconhecíamos, num lugar onde nunca tínhamos estado antes.
O meu entusiasmo esfumou-se e depressa perdi a vontade de fotografar ou filmar, os olhos fixaram-se na estrada e deixei de olhar para onde quer que fosse...
A neve caía intensamente e eu não tinha noção se estaríamos  junto a uma planície ou a um precipício, estava em pânico!
Foram os 37km mais longos e mais assustadores de toda a  minha vida!
Aos poucos o nevoeiro dissipou-se, a neve parou de cair e já eram perceptíveis manchas escuras no horizonte, os cavalos e alguns arbustos voltaram a fazer parte daquela tela e eu consegui voltar a respirar...
Acreditava que o pior tinha passado e que certamente já não faltava muito para chegarmos ao destino. Em Akureyri estaríamos a salvo!
O céu continuava carregado, mas a esperança, essa brilhava como o sol que tínhamos deixado lá atrás...
Mas, surpresa das surpresas, Akureyri estava coberta de neve, as estradas não se distinguiam dos passeios, haviam locais onde a neve tinha mais de 60cm de altura e os carros estacionados mal se reconheciam.
Eram pouquíssimas as pessoas na rua e eu continuava ali, com o meu mapa de papel na mão e com toda uma cidade desconhecida pela frente!
Seguimos as indicações até ao Parque  de campismo, mais uma vez, uma estrada sinuosa e escorregadia, mais uma vez, um troço de viagem de suster a respiração!
Chegámos ao parque, estava fechado, nunca fecha, mas naquele dia, decidiram fechar, azar dos azares e agora?
O wi-fi deixara de funcionar, não conseguia procurar alojamentos na internet, conduzir naquela cidade, naquelas condições não era fácil, estávamos exaustos!
Fomos a um posto de combustíveis e perguntámos onde ficaria o hotel mais próximo e de preferência com parque coberto. Contámos ao gerente o que nos tinha acontecido e ele amavelmente ligou para o parque para saber o motivo porque estaria fechado. A neve, foi a neve!
Prontamente se ofereceu para ajudar, disse-nos que podíamos pernoitar no estacionamento do posto e usar a casa de banho.
Estávamos exaustos da viagem, mas sobretudo daquele turbilhão de emoções, por isso decidimos aceitar a oferta e descansar ali mesmo.
Estacionados frente ao mar, um mar que me parecia um lago, um lago literalmente congelado.
Foi uma noite praticamente sem pregar olho, "fiz todos os filmes possíveis e imaginários", desde acordar de manhã e estarmos soterrados, até à drástica queda da carrinha naquele mar congelado, enfim, tudo me passou pela cabeça naquela noite!

As últimas fotos antes do grande nevão, foram 37 km contados, um misto de emoções que jamais iremos esquecer...

Chegados a Akureyri, o alívio, o medo, a incerteza, tudo brindado com o conforto de um coração num semáforo...

A cidade coberta de neve...
.. 
O nosso "refúgio" para passar a noite...

Vencida pelo cansaço adormeci quase de manhã.
Ao acordar abri a porta, estava tudo bem, estávamos vivos e de boa saúde, a carrinha não se mexeu e o mar continuava ali congelado, mas desta vez brilhava, brilhava com a luz de um amanhecer lindo!
O sol voltara, o céu estava limpo e as ruas também.
Parecia outra cidade, tinha acordado noutra cidade, mas não, era Akureyri, a cidade que me roubou o coração...


Continua...

2 comentários:

Cristina Almeida Santos disse...

Só para dizer que estou encantada!
Beijinho e obrigada por tão generosa partilha.

edienmar disse...

Eu é que agradeço!
Um grande beijinho e obrigada pelos comentários.<3